O que a série Adolescência revela sobre ser adolescente hoje
- Ligia Loverso
- 7 de abr.
- 3 min de leitura

Se nós adultos já temos muita dificuldade em selecionar o que consumimos nas redes sociais, que são controladas por empresas com interesses particulares, as crianças e adolescentes são um público ainda mais vulnerável. Na internet, eles estão disponíveis para uma série de bombardeamentos que os exploram e ajudam a moldar a forma como eles se relacionam. Diferente de tempos atrás, quando o mundo virtual podia ser facilmente desconectado, hoje ele nos acompanha aonde quer que vamos, o que pode ter um impacto ainda mais forte.
A passagem da infância para a adolescência implica em um certo descolamento dos valores das figuras paternas, que antes eram as maiores referências da criança. Na medida em que o/a adolescente cresce, ele/a percebe que o mundo é muito mais amplo, que nem todas as famílias são parecidas com a sua e que os adultos não são tão poderosos como ele imaginava. Esse afastamento da família vem então acompanhado com a busca do/a adolescente em se refugiar no grupo de seus pares. É aí que as amizades ganham uma importância ainda maior e ser rejeitado vira um dos piores pesadelos.
Embora essa aproximação de um coletivo amplie para o/a adolescente modos diversos de ser, como nos lembra Hannah Arendt, a desresponsabilização individual que o pertencimento a um grupo promove é perigosa. Sozinho, um(a) adolescente dificilmente seria capaz de realizar o que ele faria com o apoio e incentivo de um grupo.
A série Adolescência trata justamente dessa questão, mostrando como crianças e adolescentes são capturados na internet de forma a encontrar autoafirmação em grupos extremistas que incentivam à violência e à negação do outro para a validação própria.
Na série em particular, o protagonista é um menino de 13 anos que, assim como outros meninos e meninas de 13 anos, sente-se inseguro e gostaria de ser aceito por seus colegas e interesses românticos. Sendo um menino, as referências que encontra para lidar com a insegurança é precisar ser valente, agressivo, e diminuir os outros (em especial as meninas) para se engrandecer. A valentia e a diminuição do outro para a própria afirmação não é algo exclusivo aos meninos, mas em geral, as meninas não são incentivadas a partir para agressão física, como eles o são. Assim como na série, é muito comum das meninas buscarem a aceitação oferecendo o que os outros desejam, comumente fotos íntimas que às expõe a um grande risco.
Apesar do perigo dos grupos existir muito antes da internet, o que o mundo atual apresenta para os jovens é uma exposição sem limites a uma rede aberta, sem controle ou fiscalização, na qual não se sabe quem está do outro lado ou o que está sendo incentivado e promovido. Além do mundo virtual passar uma sensação de “terra de ninguém”, na qual pode-se dizer qualquer atrocidade sem consequência, ele é uma esfera que poucas famílias têm acesso por uma intenção de proteger a privacidade dos filhos, o que pode justamente acabar os deixando desprotegidos.
Minha ideia com esse texto não é levantar uma bandeira contra o uso de telas ou redes sociais pelos jovens, mas provocar uma reflexão acerca dos perigos do acesso irrestrito da internet e das implicações que isso possa ter na vida deles. Por mais complexo que seja o assunto, como adultos, está em nossas mãos pensar em formas de cuidado que protejam nossas crianças e adolescentes para que não se tornem vítimas ou reprodutores de violência.
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